sábado, 11 de maio de 2013

metade *


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.
Oswaldo Montenegro

segunda-feira, 29 de abril de 2013

an almost made up poem *


"I see you drinking at a fountain with tiny
blue hands, no, your hands are not tiny
they are small, and the fountain is in France
where you wrote me that last letter and
I answered and never heard from you again.
you used to write insane poems about
ANGELS AND GOD, all in upper case, and you
knew famous artists and most of them
were your lovers, and I wrote back, it’ all right,
go ahead, enter their lives, I’ not jealous
because we’ never met. we got close once in
New Orleans, one half block, but never met, never
touched. so you went with the famous and wrote
about the famous, and, of course, what you found out
is that the famous are worried about
their fame –– not the beautiful young girl in bed
with them, who gives them that, and then awakens
in the morning to write upper case poems about
ANGELS AND GOD. we know God is dead, they’ told
us, but listening to you I wasn’ sure. maybe
it was the upper case. you were one of the
best female poets and I told the publishers,
editors, “ her, print her, she’ mad but she’
magic. there’ no lie in her fire.” I loved you
like a man loves a woman he never touches, only
writes to, keeps little photographs of. I would have
loved you more if I had sat in a small room rolling a
cigarette and listened to you piss in the bathroom,
but that didn’ happen. your letters got sadder.
your lovers betrayed you. kid, I wrote back, all
lovers betray. it didn’ help. you said
you had a crying bench and it was by a bridge and
the bridge was over a river and you sat on the crying
bench every night and wept for the lovers who had
hurt and forgotten you. I wrote back but never
heard again. a friend wrote me of your suicide
3 or 4 months after it happened. if I had met you
I would probably have been unfair to you or you
to me. it was best like this."

sábado, 23 de março de 2013

*

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois


Mário Quintana

sexta-feira, 22 de março de 2013

o Desprezo


" - Ouve... - disse-lhe com súbita clareza o companheiro - sabes porque sou capaz de claramente me ver... me conhecer... me confessar? Por desprezo! Porque me desprezo. Desprezo é o sentimento, se é sentimento, que a humanidade mais geralmente me inspira; e às vezes ódio, quando pinta de belas aparências os seus piores vícios e cobardias; ou quando excede os mais razoáveis limites da estupidez e da maldade... já hoje viste, não é verdade?, darem-nos esmola vários nossos semelhantes. Alguns te pareceram, decerto, dotados do verdadeiro espírito de caridade. O teu coração agradeceu-lhes, talvez com sincera gratidão... Pois analisa um bocadinho a caridade deles e o teu reconhecimento. Qual o fundo dessas lindas aparências? Comodismo, vaidade, capricho, amor próprio, complacência..., e também certa sentimentalidade torpe, certo amolecimento obsceno a que, por aí, chamam bondade, e que só damos aos outros para que os outros no-los dêem a nós; ou para os darmos nós a nós próprios. Desprezo meu rapaz! Eis o que todos merecemos; o que tudo isto merece. É por desprezo que eu mendigo e me disfarço de pobre sendo rico; me faço ignorante e parvo, tendo muitos estudos. Era um grande inquieto; mas desde que desprezo, alcancei a paz. Vivo pachorramente, assisto à desgraça dos outros, divirto-me de vários modos, sou tão feliz quanto me é possível sê-lo. Na realidade, vivo como se continuamente estivesse representando. É como se tudo isto que vemos se reduzisse a um volúvel cenário, e a vida mais não fosse que uma extravagante comédia."

José Régio

segunda-feira, 4 de março de 2013

about the scars.. *

"It has been said that time heals all wounds. I do not agree. The wounds remain. In time, the mind, protecting its sanity, covers them with scar tissue, and the pain lessens, but it is never gone."

* Rose Kennedy

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

.


fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.


José Luís Peixoto 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

a arte de saber perder..


"(...)tinha um parafuso a menos
tive um acidente
puseram-me vários
estou deveras preocupada
um a menos? vários a mais?
não é que faça diferença
saber ou não, quero dizer
agora por aqui ando
tilintando por tudo e por nada
como sino meio tresloucado
tocando segundos sem parar, mas
suspeito que mos puseram nos sítios errados
aquele que faltava o tal do sítio acertado
continuo a dar pela sua inexistência
pois é muito pior perder
aquilo que se não tem
do que aquilo que, julgado possuído,
perdê-lo não se podia

pois é, elizabeth, a arte de perder é o maior mistério (...)"


Bénédicte Houart *

sábado, 23 de fevereiro de 2013

ashes and dust*

“I would rather be ashes than dust! I would rather that my spark should burn out in a brilliant blaze than it should be stifled by dry-rot. I would rather be a superb meteor, every atom of me in magnificent glow, than a sleepy and permanent planet. The function of man is to live, not to exist. I shall not waste my days trying to prolong them. I shall use my time.”

Jack London *

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

julgamentos?

"Aprendam a ler nas entrelinhas,
nos punhos ígneos e fechados,
na corda, na pedra que nos naufraga
e no amor sonâmbulo
e nesta flutuação amarga
de cavalos-marinhos prisioneiros.


E julguem,
depois julguem-nos com dureza."


in "A Raiz Afectuosa" de A. Osório

domingo, 17 de fevereiro de 2013

:)


"Já alguém sentiu a loucura

vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?

Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?

Também.
E às vezes parecer ser o fim?

Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir

muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível

atrevidamente
e ganhar-lhe,
e ganhar-lhe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?
Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar

a quem tas vier buscar."

Almada Negreiros

almas.


"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu."
- Fernando Pessoa.

das trevas e da (tua) luz.

Sempre me perguntei porque desde o dia em que me mandaste embora da tua vida, deixei de ter medo do escuro.. As trevas sempre me causaram medo.. as trevas no mar, na floresta densa, na solidão das multidões..

Agora sei que foi porque deixei de ter medo de morrer.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Pedro *


Se eu tivesse as sedas bordadas do céu.
Com bainhas de luz de ouro e de prata.
As sedas azuis e sombrias e escuras.
Da noite e da luz e da meia-luz.

Deitava-as todas aos teus pés.

Mas eu sou pobre e só tenho os meus sonhos.
Deitei-os todos aos teus pés
Pisa com cuidado,
É nos meus sonhos que estás a pisar.

W. B. Yeats

verdade, verdadinha!


Dantes havia homens que se retiravam para o deserto. Para melhor se conhecerem, para comunicarem com Deus, mas nenhum – penso – para conhecer o deserto. Alimentavam-se de mel e gafanhotos, quando não jejuavam.

Agora foi o deserto que se instalou entre nós. E os seus desígnios não são menos obscuros.

Jorge Sousa Braga

*

Contemplar o céu, as nuvens, a lua e as estrelas tranquiliza-me e devolve-me a esperança, isto não é, certamente, imaginação. A Natureza torna-me humilde e prepara-me para suportar com valentia todos os golpes.
...
Enquanto isto existir e eu possa ser sensível a isto - a este sol radiante, a este céu sem nuvens - não posso estar triste.

Anne Frank In "Diário de Anne Frank"

domingo, 3 de fevereiro de 2013

incêndios

A verdade, por muito que nos custe,
é que nunca houve ninguém
por detrás da janela
do ponto mais alto da montanha.

Se é que podemos falar
de montanha, da janela onde
por vezes chegavam,
os sinos indolentes do amor,
na sua claríssima estranheza.


E as coisas que nos matam,
incendeiam-se,
cansadas de esperar por outro dia.

*
Manuel de Freitas 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Só conheço gente perfeita eu.


    Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
    Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

    E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
    Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
    Indesculpavelmente sujo,
    Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
    Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
    Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
    Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
    Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
    Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
    Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
    Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
    Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
    Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
    Para fora da possibilidade do soco;
    Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
    Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

    Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
    Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
    Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

    Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
    Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
    Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
    Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
    Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
    Ó príncipes, meus irmãos,

    Arre, estou farto de semideuses!
    Onde é que há gente no mundo?

    Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

    Poderão as mulheres não os terem amado,
    Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
    E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
    Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
    Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
    Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

    Álvaro de Campos

domingo, 15 de julho de 2012

Viagens..


"..Pensou: «Aqui estou eu... só, dentro e fora de mim, último passageiro da minha noite interior.» E reprimiu as lágrimas, apertando a pequena mala de viagem contra o peito. Depois, mais calmo, encostou-se à janela e deixou o movimento do comboio sacudir-lhe o corpo. Á sua volta crescia o silêncio, doloroso silêncio, semelhante ao que se estende por cima do mar cuja misteriosa mansidão nos acorda, obrigando-nos a descobrir, subitamente, que a solidão é muito maior do que julgávamos."

Al Berto in Lunário*

sexta-feira, 6 de julho de 2012

*

A alma é sábia: enquanto achamos que só existe dor, ela trabalha, em silêncio, para tecer o momento novo. E ele chega* :)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

tu*


De novo o mar que espero
sentada à janela que dá para as rosas.
Que dá para todas as ruas que passei
com os teus passos. Para a estrada
onde virámos a cabeça para não ver
o homem esvaído no chão.
Depois comemos na casa de um amigo,
bebemos e falámos como se a vida fosse eterna.
À volta a estrada estava limpa, sem sinais
de sangue. As luzes sobre o mar nas duas margens
e a tua mão na minha perna. Lá no céu
um homem esventrado procura as suas asas.
Nada sei de anjos. Eu que espero o mar todos os dias
acredito na rotação da terra e na lei da gravidade.
Mas quando chegas o corpo não tem peso
e as palavras voam em redor de nós
alagadas em suor. E vem o mar.


Rosa Alice Branco

domingo, 17 de junho de 2012

domingos*

"Sempre me dei ares de rapariga muito solta. Mas, para falar verdade, estive a
fazer as contas no outro dia, e só tive onze amantes. Sem contar com o que
aconteceu antes de eu ter treze anos porque, a bem dizer, essa parte não conta.
Onze. Isso faz de mim uma puta? Olha para a Mag Wildwood. Ou a Honey Tucker. Ou
a Rose Ellen Ward. Elas já fizeram truca-truca tantas vezes que podiam formar
uma banda de percussão. É claro que eu não tenho nada contra as putas. A não ser
uma coisa: algumas podem ser verdadeiras mas têm corações falsos. Quer dizer,
não se pode foder o tipo e descontar os cheques dele sem pelo menos tentarmos
acreditar que o amamos. Eu cá tentei sempre.

Além disso, deitei
fora todos os meus horóscopos. Devo ter gasto um dólar em todas as estrelinhas
do raio do planetário. É uma chatice mas a verdade é que as coisas boas só nos
acontecem se formos bons. Bons? É mais se formos honestos, não uma
honestidade de cumprir a lei
… -eu cá era capaz de profanar uma campa
e de roubar os dois olhos de um morto se achasse que isso me dava gozo por um
dia -mas uma honestidade para connosco. Tudo menos ser-se
cobarde, fingido, um bandido emocional, uma puta: preferia ter cancro a
um coração falso
. O que não tem nada de beato, é uma questão muito
prática. O cancro pode matar, mas a alternativa de certeza que mata. Oh, que se
lixe, passa-me a guitarra que eu canto-te um fado num português
impecável."
Truman Capote

coração morto*


“Não é uma tartaruga
Escondida na sua pequenina carapaça verde.
Não é uma pedra para pegar
e por debaixo da tua asa preta.
Não é uma carruagem antiquada de metro.
Não é um pedaço de carvão que tu podes acender.
É um coração morto.
Está dentro de mim.
É um estranho
mas já foi afável,
abrindo e fechando como uma amêijoa
O que me custou, tu não podes imaginar
psis, padres, amantes, filhos, maridos,
amigos e tudo o resto.
O quão caro que foi continuar.
Também devolveu
Não o negues.
Quase que me pergunto se Abril o poderia devolver à vida
Uma tulipa? O primeiro botão?
Mas esses são apenas devaneios meus
a pena que se tem apenas quando se olha para um cadáver.
Como é que ele morreu?
Chamei-lhe MALVADO
disse-lhe, os teus poemas tresandam como vómito.
Não fiquei para ouvir a última frase.
Morreu na palavra MALVADO.
Eu fiz isso com a minha língua.
A língua, dizem os chineses
é como uma faca afiada
mata sem derramar sangue.
Anne Sexton


terça-feira, 12 de junho de 2012

Amén*

“Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre...”(Caio Fernando Abreu) 

terça-feira, 5 de junho de 2012

condenada*


"Não há nada que me possa salvar. Não há nada que me possa condenar. Sou condenado: esta certeza é a minha força e a minha liberdade.
*
A coragem de caminhar com os dois pés nus sobre a terra nua. A coragem de não querer mais do que os dois pés nua sobre a terra nua. A matéria da minha ascese.
*
Quero da vida viver cada dia com um pouco menos de medo. Um pouco mais perto de mim. Um pouco mais perto da minha verdade pobre. Apenas isto. Estritamente isto."

*Jorge Roque

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Não me procures ali.

Não me procures ali
onde os vivos visitam
os chamados mortos.
Procura-me dentro das grandes águas.
Nas praças,
num fogo coração,
entre cavalos, cães,
nos arrozais, no arroio,
ou junto aos pássaros
ou espelahada num outro alguém,
subindo um duro caminho.

Pedra, semente, sal, passos da vida.
Procura-me ali.
Viva.


Hilda Hilst*

life is..


segunda-feira, 28 de maio de 2012

...


PENSO: TALVEZ O SOFRIMENTO SEJA LANÇADO ÀS MULTIDÕES EM PUNHADOS E TALVEZ O GROSSO CAIA EM CIMA DE UNS E POUCO OU NADA EM CIMA DE OUTROS.


José Luís Peixoto, Nenhum Olhar

domingo, 27 de maio de 2012

24 hours*

"So this is permanence, love's shattered pride
What once was innocence, turned on its side
A cloud hangs over me, marks every move
Deep in the memory, of what once was love

Oh how I realised how I wanted time
Put into perspective, tried so hard to find
Just for one moment, thought I'd found my way
Destiny unfolded, I watched it slip away

Excessive flashpoints, beyond all reach
Solitary demands for all I'd like to keep
Let's take a ride out, see what we can find
A valueless collection of hopes and past desires

I never realised the lengths I'd have to go
All the darkest corners of a sense I didn't know
Just for one moment, I heard somebody call
Looked beyond the day in hand, there's nothing there at all

Now that I've realised how it's all gone wrong
Gotta find some therapy, this treatment takes too long
Deep in the heart of where sympathy held sway
Gotta find my destiny, before it gets too late"


Joy Division*

sábado, 26 de maio de 2012

My heart is a Haunted Home?

You want to drink my soul
'Till your heart is full
What happens when it's full and it splashes?
You've built all these rooftops
And painted them all in blue
If all this set just burns up will you paint the ashes?

Do you really want to see?
Because I'll let you in
With me

You shiver when the wind blows
Through doors that lost their keys
There's too little to rescue, too little to hang on to
I thought that maybe we could try to
Clear and rebuild this haunted home
I'll be glad to help you just tell me what to do

Why don't you tell me what to do?
Maybe you're scared too
I've been here before
Next thing you'll see
You'll feel
So small

I will disappoint you
And I don't care if I do
I belong to those who got shattered, battered,
Bruises and scars that I've hidden you could never heal
This grey house where I come from
Some great love will tear it down
If you no longer love me why should it matter?

Tell me why should it matter?
I can't ask you to stay
I can't find the words to say
Why don't you just leave?

Just leave