quinta-feira, 31 de maio de 2012

Não me procures ali.

Não me procures ali
onde os vivos visitam
os chamados mortos.
Procura-me dentro das grandes águas.
Nas praças,
num fogo coração,
entre cavalos, cães,
nos arrozais, no arroio,
ou junto aos pássaros
ou espelahada num outro alguém,
subindo um duro caminho.

Pedra, semente, sal, passos da vida.
Procura-me ali.
Viva.


Hilda Hilst*

life is..


segunda-feira, 28 de maio de 2012

...


PENSO: TALVEZ O SOFRIMENTO SEJA LANÇADO ÀS MULTIDÕES EM PUNHADOS E TALVEZ O GROSSO CAIA EM CIMA DE UNS E POUCO OU NADA EM CIMA DE OUTROS.


José Luís Peixoto, Nenhum Olhar

domingo, 27 de maio de 2012

24 hours*

"So this is permanence, love's shattered pride
What once was innocence, turned on its side
A cloud hangs over me, marks every move
Deep in the memory, of what once was love

Oh how I realised how I wanted time
Put into perspective, tried so hard to find
Just for one moment, thought I'd found my way
Destiny unfolded, I watched it slip away

Excessive flashpoints, beyond all reach
Solitary demands for all I'd like to keep
Let's take a ride out, see what we can find
A valueless collection of hopes and past desires

I never realised the lengths I'd have to go
All the darkest corners of a sense I didn't know
Just for one moment, I heard somebody call
Looked beyond the day in hand, there's nothing there at all

Now that I've realised how it's all gone wrong
Gotta find some therapy, this treatment takes too long
Deep in the heart of where sympathy held sway
Gotta find my destiny, before it gets too late"


Joy Division*

sábado, 26 de maio de 2012

My heart is a Haunted Home?

You want to drink my soul
'Till your heart is full
What happens when it's full and it splashes?
You've built all these rooftops
And painted them all in blue
If all this set just burns up will you paint the ashes?

Do you really want to see?
Because I'll let you in
With me

You shiver when the wind blows
Through doors that lost their keys
There's too little to rescue, too little to hang on to
I thought that maybe we could try to
Clear and rebuild this haunted home
I'll be glad to help you just tell me what to do

Why don't you tell me what to do?
Maybe you're scared too
I've been here before
Next thing you'll see
You'll feel
So small

I will disappoint you
And I don't care if I do
I belong to those who got shattered, battered,
Bruises and scars that I've hidden you could never heal
This grey house where I come from
Some great love will tear it down
If you no longer love me why should it matter?

Tell me why should it matter?
I can't ask you to stay
I can't find the words to say
Why don't you just leave?

Just leave

domingo, 20 de maio de 2012

The Hollow Man


A penny for the Old Guy
        
    

            
                I
            

We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats' feet over broken glass
In our dry cellar

Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;

Those who have crossed
With direct eyes, to death's other Kingdom
Remember us -- if at all -- not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.

            
                II
            

Eyes I dare not meet in dreams
In death's dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind's singing
More distant and more solemn
Than a fading star.

Let me be no nearer
In death's dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat's coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the wind behaves
No nearer --

Not that final meeting
In the twilight kingdom

            
                III
            

This is the dead land
This is cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man's hand
Under the twinkle of a fading star.

Is it like this
In death's other kingdom
Waking alone
At the hour when we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.

            
                IV
            

The eyes are not here
There are no eyes here
In this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms

In this last of meeting places
We grope together
And avoid speech
Gathered on this beach of the tumid river

Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death's twilight kingdom
The hope only
Of empty men.

            
                V
            

Here we go round the prickly pear
Prickly pear prickly pear
Here we go round the prickly pear
At five o'clock in the morning.

Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls the Shadow

                    For Thine is the Kingdom

Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow


                    Life is very long

Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls the Shadow

                    For Thine is the Kingdom


For Thine is
Life is
For Thine is the

This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper.

* T.S.Elliot

Iansã*


quinta-feira, 17 de maio de 2012

*

Queria que te lembrasses de mim todos os dias e que o teu coração se apertasse ao pensar como o meu cabelo fica passado uma noite inteira de sono. Como tomo o pequeno-alomoço ensonada e o meu critério da escolha da roupa que uso: a primeira coisa que está à mão. Gostava que pensasses em mim e que o teu coração se apertasse e que isso te fizesse ligar-me e que ficasses feliz de o fazer, de ouvir a minha voz. Queria que quisesses saber como foi o meu dia, e que todos os dramas diários fossem para ti motivo de riso e alegria. Mas já não é. Há muito que deixou de o ser.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

olhos nos olhos


viva o canal Hollywood.

..pérolas do Closer (2004)

- She doesn't want to be happy. 
- Everybody wants to be happy.
- Depressives don't. They want to be unhappy to confirm they're depressed. If they were happy they couldn't be depressed anymore. They'd have to go out into the world and live. Which can be depressing.

(...)

- How a person can be so endlessly disappointing? 
- That's my charm.

(...)


- I don't want to lie. I can't tell the truth. So it's over.



segunda-feira, 14 de maio de 2012

...

Agora já não nos abraçamos, já não nos reconhecemos, já nem sabemos quem éramos. Ele já não sabe quem eu sou e já não sei quem ele é. Exactamente o mesmo que eramos antes de nos terem apresentado, há muitos anos. E se o visse na rua lembrar-me-ia de alguém mas não saberia de quem. Com ele passa-se o mesmo. Foi há muito e durou pouco tempo. Não vale de nada falar nisso, no amor que morreu. Não há sopro de vida que possa ressuscitar um amor morto. Como as palavras são parecidas, amor morto, meu amor, estranho acaso.

Pedro Paixão

domingo, 6 de maio de 2012

dor.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, 
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". 
O vento da noite gira no céu e canta. 


Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
Eu amei-a e por vezes ela também me amou. 
Em noites como esta tive-a em meus braços. 
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. 


Ela amou-me, por vezes eu também a amava. 
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. 
Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi. 


Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. 
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. 
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la. 
A noite está estrelada e ela não está comigo. 


Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. 
A minha alma não se contenta com havê-la perdido. 
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. 
O meu coração procura-a, ela não está comigo. 


A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. 
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. 
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. 
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. 


De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. 
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. 
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. 
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. 


Porque em noites como esta tive-a em meus braços, 
a minha alma não se contenta por havê-la perdido. 
Embora seja a última dor que ela me causa, 
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.


Pablo Neruda*

sexta-feira, 4 de maio de 2012

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Fala Caio!

"Então apaga tudo aquilo que não valeu a pena.Quem mentiu, quem enganou o teu coração, quem teve inveja, quem te tentou destruir,quem usou máscaras,quem te magoou,quem te usou e nunca chegou a saber quem realmente tu és."


ou esta...

"Ele pode estar a ver as tuas fotos neste exacto momento. Porque não? Passou-se muito tempo. Detalhes se perderam. E daí ? Pode ser que ele faça todas as coisas que tu fazes, escondida. Sem deixar rastro nem pistas. Talvez ele passe a mão na barba mal feita e sinta saudade do quanto tu gostavas disso. Ou percorra trajetos que eram seus, na tentativa de não deixar que tu te disperses das lembranças. As boas. Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em ti. Todos os dias. E ainda assim preferir o silêncio. Ele pode reler os teus bilhetes, procurar o teu cheiro em outros cheiros. Ele pode ouvir as tuas músicas, procurar a sua voz em outras vozes. Quem nos faz falta acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta. Não há escape! Talvez ele perceba que tu fazes falta. E diferença. De alguma forma, numa noite fria. Tu não sabes. Ele pode ser o gajo com quem passarás aquele tão sonhado verão em Paris . Talvez ele volte. Ou não.”